Em tudo na vida, ser radical não faz bem.
Sobretudo na nossa língua.
Já disse lá para baixo que as exceções de nossa gramática despertam paixões e ódios. Há quem defenda ferrenhamente uma crase aqui, uma vírgula acolá, um hífen lá...
Eu já fui assim. Achava que havia A GRAMÁTICA CORRETA, em detrimento de outras, equivocadas.
Mas aí eu passei a ver que nunca, jamais, em tempo algum, o português será uma língua uniforme, como o alemão, o inglês — não são idiomas, são máquinas, o que lhes confere o devido fascínio.
O português é uma língua latina, cheia de coisinhas. Cabe todas as divergências possíveis e imagináveis. De onde eu passei a defender não o 'certo', mas o 'mais adequado' ou o 'mais sonoro'.
Eu acho que pouquíssimas pessoas têm de fato a autoridade de decretar o que está efetivamente errado. Mal comparando, não podemos levar a ferro e fogo a opinião divergente de milhares de juízes quando há apenas uma dúzia de ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem cabe dar 'a palavra final'.
E, mesmo assim, no caso da língua, não há espaço para fundamentalismos. Ser xiita é ignorar que idiomas são dinâmicos e divergentes. E isso não faz bem, pois é radicalismo.
Claro que não há o que discutir com os 'gatos com J', aqueles erros crassos. Mas querem um exemplo de como tem pano para a manga?
Dona-de-casa tem hífen? Tem. E café-da-manhã? Aí eu não poria. Está errado?
Tenho outro ainda melhor. Como se chama aquele queijo que a gente bota em cima da pizza?
Muçarela. Sim! Com esse horrendo cedilha! É só ir ao dicionário. Mas eu me recuso a escrever assim. Aliás, nunca vi escrito. Espero que seja um caso, dentre vários, de aceitação por uso comum. Desde que eu me entendo por gente, o queijo é mussarela. Creio que muitos de vocês concordarão comigo. E como provar que o correto seja muçarela? Qual o argumento? Difícil convencer a gente sem fundamentalismo.
É por essas e outras que, quando eu me deparo com uma dúvida menor, recorro ao efeito-caneca.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
Ma che, ahn? Io parlo i iscrivo muzzarella, Dio santo!!!
Baccio
Sibele
Adorei esse post! O português é uma língua tão cheia de pluralidades que jamais poderia ter uma única versão.
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