domingo, 17 de fevereiro de 2008

Fundamentalismo lingüístico

Em tudo na vida, ser radical não faz bem.

Sobretudo na nossa língua.

Já disse lá para baixo que as exceções de nossa gramática despertam paixões e ódios. Há quem defenda ferrenhamente uma crase aqui, uma vírgula acolá, um hífen lá...

Eu já fui assim. Achava que havia A GRAMÁTICA CORRETA, em detrimento de outras, equivocadas.

Mas aí eu passei a ver que nunca, jamais, em tempo algum, o português será uma língua uniforme, como o alemão, o inglês — não são idiomas, são máquinas, o que lhes confere o devido fascínio.

O português é uma língua latina, cheia de coisinhas. Cabe todas as divergências possíveis e imagináveis. De onde eu passei a defender não o 'certo', mas o 'mais adequado' ou o 'mais sonoro'.

Eu acho que pouquíssimas pessoas têm de fato a autoridade de decretar o que está efetivamente errado. Mal comparando, não podemos levar a ferro e fogo a opinião divergente de milhares de juízes quando há apenas uma dúzia de ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem cabe dar 'a palavra final'.

E, mesmo assim, no caso da língua, não há espaço para fundamentalismos. Ser xiita é ignorar que idiomas são dinâmicos e divergentes. E isso não faz bem, pois é radicalismo.

Claro que não há o que discutir com os 'gatos com J', aqueles erros crassos. Mas querem um exemplo de como tem pano para a manga?

Dona-de-casa tem hífen? Tem. E café-da-manhã? Aí eu não poria. Está errado?

Tenho outro ainda melhor. Como se chama aquele queijo que a gente bota em cima da pizza?

Muçarela. Sim! Com esse horrendo cedilha! É só ir ao dicionário. Mas eu me recuso a escrever assim. Aliás, nunca vi escrito. Espero que seja um caso, dentre vários, de aceitação por uso comum. Desde que eu me entendo por gente, o queijo é mussarela. Creio que muitos de vocês concordarão comigo. E como provar que o correto seja muçarela? Qual o argumento? Difícil convencer a gente sem fundamentalismo.

É por essas e outras que, quando eu me deparo com uma dúvida menor, recorro ao efeito-caneca.

2 comentários:

Sibele disse...

Ma che, ahn? Io parlo i iscrivo muzzarella, Dio santo!!!

Baccio

Sibele

Jéssica disse...

Adorei esse post! O português é uma língua tão cheia de pluralidades que jamais poderia ter uma única versão.