O cacófato é uma das pragas mais divertidas da língua. Todos nós a aprendemos no colégio. Quem é jornalista também a conhece muito bem.
Surge um cacófato quando a junção de duas ou mais palavras produz outra, de baixo calão, ou feia mesmo. Há um certo ranço de preciosismo em alguns casos, mas em outros não dá para negar: é esquisito paca.
O meu preferido?
- O secretário foi demitido por razões que só o governador sabe.
Outro clássico:
- O verão tem tudo o que o carioca gosta!
Antigamente eu era obrigado a evitar cocôs (os ladrões roubaram cinco cobertores) e outras excrescências. Hoje em dia eu fiquei mais tolerante, até porque muita gente nem percebe que tropeça em cacófatos.
Mas existe um ainda mais clássico, proposital, e ancião: tem uns 45 anos, quase a duração do comando-em-chefe de Fidel Castro em Cuba.
(Ainda que eu não o admire politicamente, não posso negar que se trata de um ícone)
Era 1962. Auge da Guerra Fria. Cuba era a casa de veraneio da União Soviética, que bancava a grande aventura socialista na América Caribenha. Aí o presidente Kennedy descobriu, primeiro por agentes da inteligência, depois por fotos mesmo, que a ilha tinha recebido um respeitável arsenal de mísseis que podiam fazer estragos em Miami e Houston.
Historiadores elegem este o momento mais crítico da Guerra Fria, em que ficou claríssima a ih!minência de uma nada gentil troca de bombas — já que o Tio Sam também tinha armas no quintal do inimigo, no caso a Turquia.
Quando o mundo se preparava para uma batalha de verdade, com destruição em massa, e Fidel, uma invasão ianque ou algo pior, Kennedy e Krushchev selam um acordo, e a paz volta aos níveis de banho-maria.
Mas, até o desfecho, muita gente aqui no Brasil apostava num bombardeio das cidades do sul da costa leste dos Estados Unidos. Outros afirmavam que Fidel era um frouxo e não teria coragem de atacar o vizinho.
Dessa polêmica surgiu, aos sabores de uma crise mundial, um cacófato gaiato:
- Eu quero ver Cuba lançar!
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