Este assunto foi um pedido da Gisele. Este post, então, é dedicado a ela.
Toda disciplina escolar tem a sua hora do pesadelo. É aquele assunto que desafia o mais obstinado CDF. Em Química, por exemplo, eu sofria nas delicadas e instáveis equações do cálculo estequiométrico. Na Matemática, penava nas contas da geometria analítica espacial.
Qual seria o pesadelo em Português? Acredito que haja outras dificuldades nas áreas mais específicas da matéria, mas no campo experimental, no dia-a-dia, arrisco a dar um palpite: é a flexão do infinitivo. Traduzindo:
Os estudantes fugiram para não ser ou serem presos?
Não há gramático nesta terra que crave uma regra. Os mais notáveis, como Gama Cury, Ernani Terra, Paschoal Cegalla, Pasquale e Sérgio Nogueira, concordam num ponto: depende do ouvido.
Quer dizer que vale tudo?
Não necessariamente. Casos cascudos como o exemplo acima são raríssimos, mas são comuns erros iguais a este:
A escola autorizou os alunos a viajarem para Minas Gerais.
O mesmo povo que prega a avaliação do ouvido (ou a eufonia) nos casos raros é taxativo em relação à frase acima: é errado, sim. Feio. Um deslize.
Vamos então tentar pôr fim a esse mar de dúvidas.
FICA NO SINGULAR...
1 - Quando o verbo é composto.
Reivindicamos estudar. Elas pretendem comprar a loja inteira!
2 - Quando o sujeito é o mesmo.
Eles recorreram à Justiça para derrubar a liminar. Nós não temos motivos de nos orgulhar.
3 - Quando o verbo complementa outro verbo, um substantivo ou um adjetivo, ou quando complementa uma voz passiva.
Todos têm permissão de entrar no templo. Nós nos arrepiamos com a emoção de ver o show. Os candidatos estão proibidos de levar celulares. Nós ficamos cansados de ouvir falar de tanta corrupção. Os grevistas desistiram de negociar e farão piquetes, mas a empresa autorizou os gestores a cortar o ponto dos manifestantes.
VAI PARA O PLURAL...
1 - Quando há sujeito próprio.
O professor permaneceu de olho, mas não viu os alunos colarem. Os pesquisadores garantiram serem nocivos os repelentes à base de cloro.
2 - Para evitar dúvidas.
O presidente convocou os minstros para (*) sobre as novas medidas. Falar ou falarem? Depende. Se quem vai falar é o presidente, fica no singular. Se são os ministros, é falarem.
Agora é que a porca torce o rabo.
3 - Quando é voz passiva com verbo de ligação.
Lembram-se do exemplo lá de cima?
Os estudantes fugiram para não ser ou serem presos?
Não tem bem uma regra. A coisa é muito subjetiva, depende demais da avaliação da frase. No exemplo acima, a noção de voz passiva tem de estar muito viva na cabeça da pessoa. Lembram? A polícia prendeu os estudantes. Os estudantes foram presos pela polícia. Até aí, tudo bem. O problema é identificar isso no meio da frase, com um infinitivo, ainda mais amparado pela premissa de que não há norma acerca disso.
Existe um efeito-caneca para isso. Basta desmembrar a frase com um que:
Os estudantes fugiram para que não fossem presos.
Vêem como aí a voz passiva brota como cogumelos depois de uma tempestade?
Os trabalhadores aprovaram as reivindicações para serem cobradas na próxima reunião.
A banca examinadora preparará neste fim de semana os testes para serem aplicados mês que vem.
Outra dica: quando o termo em dúvida não tiver um plural anterior, como foi o caso do último exemplo, o infinitivo vai para o plural.
O assunto é polêmico, os casos, raros; mas para mim o tema detém o título de mais espinhoso do idioma. Por isso, deve ser estudado e debatido.
Espero não ter cansado vocês.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
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