sábado, 20 de junho de 2009

Final do Soletrando - ao vivo!!!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Final do Soletrando ao vivo!



Acompanhe aqui, em tempo real, a finalíssima do Soletrando!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Remédio e vitaminas para o jornalismo

Dia desses meu amigo Berri me encaminhou essa tirinha:


Numa lista de quatro das coisas que nossos netos nunca entenderão, consta o jornal. Ao lado do já cremado videocassete - que rebobina (!) em cinco minutos (!)

[E a gente ainda levava multa se devolvesse uma fita de vídeo sem rebobiná-la. E isso mal tem 15 anos]

Essa tirinha veio à tona na minha cabeça logo que li a entrevista de Gay Talese à Veja. André Petry teve a honra de conversar com o jornalista - não vou gastar adjetivos aqui, porque invariavelmente sairiam coisas aquém do que ele realmente é.

Claro que a crise do jornalismo ocupou boa parte da conversa. Reproduzo aqui dois trechos muito pertinentes.

"Na Internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto. Estão informados, mas é um modo linear de pensar e ser informado, que não dá chance ao acaso. Quem lê um jornal impresso lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo. Claro que você também pode fazer isso na Internet, mas o apelo da Internet é oferecer informação rápida. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas. Quem se informa pela Internet, de modo assim estreito e limitado, pode ser muito bem-sucedido, ganhar muito dinheiro, mas não terá uma visão ampla do mundo.

Outra mantém viva a paixão pelo jornalismo:

"As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa. Todos os dias, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém. De todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade. Os jornalistas não toleram o mentiroso entre eles. Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista."

Mas é fato: jornais estão morrendo. Ainda que no Brasil o câncer esteja longe da metástase, como se vislumbra no país de Talese, a saúde dos diários daqui vai mal - e só piora com o comportamento hipocondríaco de muitos de seus colaboradores. O que não quer dizer que não se está lutando contra isso. Há de ter uma solução, e muitos jornais fritam a cabeça tentando encontrá-la.

Talese frisa na questão da visão ampla. E ele mira certeiramente na função de editor que os jornais, seja de que meio são, detém. Ele deixa bem claro que não basta apenas a informação.

Acontece que ela hoje foi reduzida a pílulas. O cara está com dor de cabeça? Corre no armário e pega uma aspirina, um tylenol. Assim é com a informação. Homeopatia.

A diferença é que o mundo de hoje, em relação ao de ontem, não mudou nada num ponto. Merdas acontecem o tempo todo - coisas boas também, mas vamos nos ater à máxima de que notícia ruim vende jornal. Só que soa meio anacrônico você pagar dois dólares para saber das merdas que aconteceram ontem, como diz a tirinha, se fatalmente essa merda pode ter surgido horas antes na tela do computador.

A crise assusta mais pela possibilidade de alienação de uma geração do que pelo desinteresse específico pelo jornal de papel. É como se o cara questionasse comprar uma farmácia inteira se o que ele realmente quer é um tylenol.

Creio que o Talese pense que o caminho das pedras está em deixar o jornal atraente, de não deixá-lo virar dispensável. Para mim, ele é indispensável, porque nossa profissão é indispensável, porque viemos ao mundo para editar as histórias, para contá-las.

O jornal deve e precisa suprir as pílulas de que o leitor necessita. Só que agora temos de vitaminá-lo. E o desafio é justamente esse.

domingo, 14 de junho de 2009

A queda do império

Vocês notaram que o modo imperativo está quase virando peça de museu?

Na língua oral, soa como um papiro cheio de poeira que nos dá alergia só de tocar. Na escrita, ainda que ela resista, quando o imperativo aparece nossa memória dá um jeito de tachar de arcaico o que acabamos de ler.

O fato é que as pessoas estão dando ordens de outra forma. Não usam mais o imperativo.

Não tem muito tempo, diríamos: "Meu filho, passa no supermercado e traze meia dúzia de ovos".

Algo errado? Não, conjugamos o passar e o trazer no imperativo, respeitando a segunda pessoa, o tu.

Vocês lembram? Há uma fórmula para conjugar o imperativo. A regra número um: sabe-se lá por que, a língua portuguesa não admite que a pessoa se mande. Logo, a conjugação parte do tu. Depois, no lugar do ele, vem um você, porque se pressupõe que o ordenado tem de estar na sua frente, e um ele não garante essa 'presença'.

Há o afirmativo e o negativo. Este é mole: basta importar todas as formas do presente do subjuntivo - outro modo verbal que anda preterido. A coisa fica só um pouquinho mais complicada no presente do imperativo. A segunda pessoa vem do presente do indicativo, mas sem o s. Complicado?

Se dizemos eu ando, tu andas, ele anda, no imperativo teremos anda tu. É o andas sem o s.

As demais pessoas copiam do presente do subjuntivo, tal como o negativo.

Vamos a um exemplo prático?

Verbo correr: Eu corro, tu corres, ele corre; nós corremos, vós correis, eles correm. Que eu corra, que tu corras, que ele corra; que nós corramos, que vós corrais (ui!), que eles corram. Vejam que destaquei o que usaremos na montagem do imperativo afirmativo. Então, fica: corre tu, corra você, corramos nós, correi vós, corram vocês.

O não corrais vós, sozinho, é um argumentaço para derrubar o uso frequente do imperativo. É feio demais.

A discussão, porém, vai mais além. Do Sudeste para cima, pouco se usam o tu e o vós com a conjugação correta. Aliás, só o tu ainda resiste. Alguém aí fala vós sem ser na missa?

Até porque todo mundo aqui ouve - ou fala - tu vai, tu foi.

Se dois dos alicerces da conjugação verbal estão praticamente no chão, o imperativo cai junto.

Lembram da dúzia de ovos lá de cima? O passa (tu) talvez tenha passado despercebido, porque ele se confunde com o ele passa. O que cauza estranheza é o traze (tu). Vocês concordam que a frase mais comum seria Meu filho, passa no supermercado e traz meia dúzia de ovos?

Estamos, na prática, assistindo à queda do império. É no mínimo curioso, pois se trata de um maltrato à língua, que foi esculpida, montada, erguida assim. Se há hoje uma tida bizarrice como um não corrai vós, é porque nossa língua assim encontrou e assim se estabeleceu. Houve uma lógica, e deveríamos ser gratos a ela, por ser tão rica. Não é uma obra tosca, pelo contrário.

Mas sei que não há muito o que fazer contra esse golpe. Breve assistiremos ao 'Baile da Ilha Fiscal', na noite às vésperas da derrocada final do império.

Sobre o Twtiter

O portal de microblogs sempre esteve lá, mas parece que de uns meses para cá a coisa tornou-se febre, e, como toda febre, desperta paixões e ódios.

Razões declaradas para odiar: há quem pragueje contra os parcos 140 caracteres do limite que nos é imposto. Outros reclamam da futilidade de alguns usuários. Alguns, não tão radicais, alegam não ter tempo de ficar tuitando o tempo todo.

Vamos nos ater primeiro à questão da futilidade. De fato, muita gente leva ao pé da letra o convite que o Twitter faz no seu cabeçalho: What are you doing? - e lá vai o sujeito relatar as coisas mais irrelevantes de sua vida. O cúmulo se dá quando, mesmo dentro dessa irrelevância toda, o nada impera - mas o sujeito precisa manter os tweets, e aí despeja qualquer coisa. Até um bom-dia.

O limite: se isto fosse um tweet, teria estourado os 140 caracteres antes mesmo de terminar o primeiro parágrafo. O espaço teria acabado em paixões. Muita gente verborrágica diz que isso não dá para nada.

O tempo: eu, de fato, não o tenho. Meus afazeres me impedem, prática e eticamente, de ficar tuitando o tempo todo. O site sugere - ou melhor, quase impõe - uma atualização frenética. Não consigo.

Então o Twitter é tudo de ruim?

Muito pelo contrário.

Nada do que acontece ali é diferente do que ocorre na Internet em geral. Não é difícil achar blogs com besteira. O que mais povoa a Web é porcaria, e muita gente grande já aprendeu que basta não acessá-la e filtrar o que quer ver.

A mesma coisa se dá no Twitter. Uns poucos usuários sacaram que a ferramenta oferece muito mais do que um relato em tempo real de uma vida ordinária e passaram a usá-la como um plantão de coisas bacanas. Há quem leve isso muito a sério: são jornalistas tão ligados e tão pilhados que tuítam para dizer que a Pinheiro Machado está engarrafada.

Bobagem? Pode ser, mas essa mesma pessoa pode dar um 'furo' ou, numa perspectiva mais humilde, contribuir para uma apuração com uma visão diferenciada.

Mas eu vejo no Twitter uma vantagem prática: ele é ótimo para nos apontar tendências, ou simplesmente fazer pipocar um assunto legal. Um exemplo: na segunda-feira seguinte à queda do Airbus, fiz uma pesquisa de teste para ver o que se falava de airfrance e Air France. Mal e porcamente, de cada 10 mensagens, tínhamos 5 'besteiras', do tipo gente chocada, gente triste. Três traziam links para notícias óbvias ou as reproduziam - nos 140 caracteres, pois. As duas restantes eram atualizações pertinentes, em cima do lance. Detalhe: a cada minuto, pingavam centenas de tweets.

Se você está entediado com os usuários que você segue, apenas se dê ao trabalho de abandoná-los. Há gente legal no Twitter. Gente que posta humor, gente que compartilha links legais. Gente que não está lá para colocar qualquer coisa.

Quanto ao tempo, não tenho uma contra-argumentação decente, mas questiono se realmente é necessário alimentar sua página com 400 tweets diários. Às vezes basta um RT - sigla para re-tweet, uma forma de você manter um tweet em evidência e bombá-lo - para dar o recado.

E quanto aos 140 caracteres? Já dizia Carlos Drummond de Andrade: escrever é cortar palavras. Se bem que, para publicar este post no Twitter, precisaria de 22 updates...