quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Metapiadas

Já falamos de pleonasmo. Hoje falaremos de metalinguagem.

Soa chato? Vocês verão que não.

Metalinguagem é a língua que serve para se descrever ou descrever outra. É a língua falando da língua.

Já uma metapiada seria a piada dela mesma.

Eu conheço duas. Uma em português, outra em inglês.

A estrangeira foi tema de um documentário que anda passando na HBO. É a Piada dos Aristocratas. Já a nossa é a Piada do Tchu.

Ambas, na essência, não têm a menor graça. Para ter sucesso, dependem de quem as conta. Seguem a mesma fórmula: têm começo e fim. O meio fica por conta do piadista. Por serem livres, permitem devaneios, fugas, improvisações, encenações. Se a pessoa for talentosa, pode ser ovacionada.

Eis a fórmula dos Aristocratas:

- Um comediante procura um produtor e diz: 'Eu tenho um número maravilhoso para apresentar no seu teatro!!!'. O produtor: 'Como é?'. E o comediante começa.

Neste ponto entra a improvisação do cara. Americanos normalmente usam e abusam de toda sorte de devassidão, podridão e bizarrices sexuais entre uma família com pai, mãe e casal de filhos. Há quem inclua animais na orgia. O primeiro intuito não é chocar, mas fazer rir da situação esdrúxula.

Terminada a exposição, o comediante tem de voltar à fórmula.

- O produtor, então, pergunta: 'Ótimo número! Como se chama?'. E o comediante responde, gesticulando à Carmem Miranda: 'The Aristocrats!'

No documentário, todos elogiam o que seria o Picasso da Piada dos Aristocratas. É Gilbert Gottfried, num evento do playboy-mor Hugh Hefner. O vídeo está em inglês. ATENÇÃO: antes de clicar, vá preparado para muita baixaria.

Já a Piada do Tchu, apesar de tão infame quanto, é infinitamente menos pornográfica, quiçá casta. Sua fórmula é aberta, permite que o comediante estabeleça tempo, local e situação. Pode ser tanto na Idade Média quanto na esquina da sua rua.

Envolve basicamente o seguinte: um cara encontra um grupo que saúda, com cânticos e vivas, um tal de Tchu. A partir daí, o piadista tem de criar situações rocambolescas para dificultar a entrada desse cara nos adoradores do Tchu. Ou então principiar uma saga pelos grotões, inventando obstáculos para retardar o Encontro (é importante frisar a caixa alta). Há quem explore condições bizarras, como ter de usar um broche do Pokémon ou calçar sapatos bege para ser aceito.

Se o Aristocratas não depende de duração, o Tchu tende a fazer mais sucesso caso seja interminável. Quando o carrasco-piadista se certificar de que a audiência já está de saco cheio, deve seguir mais ou menos isto:

- Aí, o cara finalmente chega a uma caverna/templo/galpão/parque. Lá, encontra um fortão sem camisa/encapuzado/de batina com uma tocha acesa na mão e um balde d'água/em frente a uma poça/um lago. Cânticos evocam o Tchu num volume que cresce a cada instante. O fortão, então, com uma voz de trovão, grita para a multidão: 'VOCÊS QUEREM VER O TCHU???'. No que a turba clama por sua presença, ensandecida, o fortão ergue a tocha e a enfia na água: TCHUUUUU...

Conhece uma versão inusitada? Conte para a gente.

2 comentários:

Unknown disse...

Uma boa metapiada, mas de outra vertente, é a que Mia Wallace esconde o tempo todo de Vincent Vega em "Pulp Fiction" e só conta ao fim do encontro, depois de muito insistir, lembra? Uma família de tomates está atravessando uma highway, até que o tomatinho mais novo fica para trás. O Tomate-pai corre atrás dele e lhe dá um porradão, de cima para baixo, gritando:
- Catch up!

Rafael Cavalcanti disse...

Essa metapiada do "tchu" já foi tema de historinha do Piteco, o homem das cavernas da Turma da Mônica. Só que nessa versão era "o tchum". Tinha até uma brincadeira com a música do tchan, que fazia sucesso na época: "Segura o tchum e tchum e tchum" e "A primeira faz tchum e tchum e tchum".

Engraçado que lembrei disso essa semana.