sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

'Hinferninzação'

Outra grande dificuldade da língua diz respeito ao hífen. É, com perdão do trocadilho, um hinferno.

Existem duas categorias principais de uso. Há o hífen de super-homem e há o hífen de dona-de-casa.

O primeiro é o hífen dos prefixos, que têm inúmeras regras. Normas, aliás, que a reforma ortográfica quer apagar. Realmente, não faz sentido você hinfernizar extra-oficial e escrever antiinflamatório tudo junto. Isso seria nivelado por baixo: praticamente tudo perderia o hífen, salvo em super-reforma. Alegam que aí você tem o som de três erres.

O que vocês podem saber para simplificar a vida é que a grande parte das palavras prefixadas não pede hífen. Isso só poderá ocorrer - e depende ainda do prefixo - se o que vier depois do tracinho for vogal, H, S ou R.

Megacondomínio? Supercasa? Internacional? Bicentenário? Hexacampeonato? Tudo sem hífen.

Já o outro círculo hinfernal é o da derivação de sentido. Quando duas palavras se juntam para formar uma outra acepção, costuma-se pôr hífen.

O braço direito dele ficou preso no portão.

Então? Tem ou não tem? Se for o braço, não, obviamente. Mas se for o homem de confiança, tem. Braço-direito.

Outro caso duplo: quando você sofre com enxaqueca, você tem dor de cabeça. Quando alguma coisa aporrinha você, é uma dor-de-cabeça.

Existem exceções — claro, o que seria o português sem elas —, mas eu proponho uma rebelião em prol da lógica. Alguns dicionários registram sem hífen termos que ao meu ver deveriam ter, como homem forte (no sentido de ser o maior braço-direito).

Assim, proponho a regra: mudou o sentido? Hífen. Como em alto-mar.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu uso sempre o critério de "terceira palavra". Duas unidas que formam uma terceira, cujo sentido porra nenhuma tem a ver com as duas originais, hífen nela.
Quando trabalhei no LANCE!, lá por 2000 e caquerada, havia batalhas com choro e ranger de dentes entre editores e repórteres que escreviam "o ataque aconteceu pela LATERAL-DIREITA do campo" e "Rosemiro foi LATERAL DIREITO do Palmeiras na década de 1970".

É só decorar:quando é O lateral, precisa hífen porque tratamos da posição que o jogador exerce, e estamos falando dele, não da margem do campo. Portanto, hífen: lateral-direito.
Já o ataque pela ponta ("Bota ponta, Telê!") só pode ser pela LATERAL À DIREITA do campo, ou LATERAL DIREITA...

O mundo do futebol é repleto de armadilhas