segunda-feira, 15 de junho de 2009

Remédio e vitaminas para o jornalismo

Dia desses meu amigo Berri me encaminhou essa tirinha:


Numa lista de quatro das coisas que nossos netos nunca entenderão, consta o jornal. Ao lado do já cremado videocassete - que rebobina (!) em cinco minutos (!)

[E a gente ainda levava multa se devolvesse uma fita de vídeo sem rebobiná-la. E isso mal tem 15 anos]

Essa tirinha veio à tona na minha cabeça logo que li a entrevista de Gay Talese à Veja. André Petry teve a honra de conversar com o jornalista - não vou gastar adjetivos aqui, porque invariavelmente sairiam coisas aquém do que ele realmente é.

Claro que a crise do jornalismo ocupou boa parte da conversa. Reproduzo aqui dois trechos muito pertinentes.

"Na Internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto. Estão informados, mas é um modo linear de pensar e ser informado, que não dá chance ao acaso. Quem lê um jornal impresso lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo. Claro que você também pode fazer isso na Internet, mas o apelo da Internet é oferecer informação rápida. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas. Quem se informa pela Internet, de modo assim estreito e limitado, pode ser muito bem-sucedido, ganhar muito dinheiro, mas não terá uma visão ampla do mundo.

Outra mantém viva a paixão pelo jornalismo:

"As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa. Todos os dias, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém. De todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade. Os jornalistas não toleram o mentiroso entre eles. Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista."

Mas é fato: jornais estão morrendo. Ainda que no Brasil o câncer esteja longe da metástase, como se vislumbra no país de Talese, a saúde dos diários daqui vai mal - e só piora com o comportamento hipocondríaco de muitos de seus colaboradores. O que não quer dizer que não se está lutando contra isso. Há de ter uma solução, e muitos jornais fritam a cabeça tentando encontrá-la.

Talese frisa na questão da visão ampla. E ele mira certeiramente na função de editor que os jornais, seja de que meio são, detém. Ele deixa bem claro que não basta apenas a informação.

Acontece que ela hoje foi reduzida a pílulas. O cara está com dor de cabeça? Corre no armário e pega uma aspirina, um tylenol. Assim é com a informação. Homeopatia.

A diferença é que o mundo de hoje, em relação ao de ontem, não mudou nada num ponto. Merdas acontecem o tempo todo - coisas boas também, mas vamos nos ater à máxima de que notícia ruim vende jornal. Só que soa meio anacrônico você pagar dois dólares para saber das merdas que aconteceram ontem, como diz a tirinha, se fatalmente essa merda pode ter surgido horas antes na tela do computador.

A crise assusta mais pela possibilidade de alienação de uma geração do que pelo desinteresse específico pelo jornal de papel. É como se o cara questionasse comprar uma farmácia inteira se o que ele realmente quer é um tylenol.

Creio que o Talese pense que o caminho das pedras está em deixar o jornal atraente, de não deixá-lo virar dispensável. Para mim, ele é indispensável, porque nossa profissão é indispensável, porque viemos ao mundo para editar as histórias, para contá-las.

O jornal deve e precisa suprir as pílulas de que o leitor necessita. Só que agora temos de vitaminá-lo. E o desafio é justamente esse.

Nenhum comentário: